domingo, 8 de março de 2015

A Voz Feminina no Rádio e na Televisão

Comunicação na Mídia • Cida Stier


Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, quero fazer uma homenagem especial às repórteres e às apresentadoras de rádio e de televisão, que contam a história do mundo por meio de suas vozes.

Como fonoaudióloga, especialista em voz, há anos dedico-me a pesquisas, preparação e desenvolvimento de vozes profissionais nos meios de comunicação. A voz de cada pessoa é única e representa uma ponte entre o pensamento e o ouvinte. Deste modo, a credibilidade de uma informação passa essencialmente pela voz.

Em muitos casos, por exemplo a voz aguda não carrega a autoridade necessária à comunicação na mídia. Portanto, as técnicas vocais são ferramentas básicas para os profissionais do vídeo, especialmente para as mulheres.

Sou muito grata a todas as jornalistas que confiam a mim suas vozes. É muito gratificante participar de um bastidor em que o esforço e a dedicação em conquistar uma voz melhor contribuem para o êxito e o sucesso profissional.

Deste modo, quero compartilhar aqui fatos interessantes ao longo da história das últimas décadas, que marcam a conquista da mulher jornalista em “ter voz e se fazer ouvir”.

No início, o jornalismo era uma profissão predominantemente masculina. Uma das formas de discriminação contra a mulher era o pensamento comum de que os ouvintes não gostavam de vozes femininas, por não transmitirem autoridade.

Edward R. Murrow, jornalista da CBS, indiretamente contribuiu para a mudança desse conceito. Ele foi o primeiro a admitir uma mulher para transmitir notícias pelo rádio, em um projeto ousado e inovador.  Em 1939, criou o “CBS World News Roundup”, uma transmissão ao vivo, da zona de guerra. Diariamente, os repórteres apresentavam os furos de notícias para milhões de ouvintes, mesmo sem ter certeza de que estariam realmente sendo ouvidos.

A partir dessa forma de atuação, em que um profissional unia as funções de levantar a notícia, escrevê-la e apresentá-la formou uma figura nova para a comunicação. Esta nova forma de reportagem precisava de muitos correspondentes que fossem profissionais experientes com vozes fortes e convincentes. Murrow contratou uma antiga amiga, Mary Marvin Breckinridge para trabalhar nessa sua equipe. Como fato curioso, bem no momento da primeira gravação, ele pediu a ela que  usasse a voz no tom grave. O conselho era baseado, no senso comum da época sobre a falta de autoridade da voz feminina. Ela foi a primeira correspondente mulher na equipe da CBS Radio News.

Após o término da guerra e o retorno dos homens aos seus empregos, poucas mulheres permaneceram nas estações de rádio e agências de notícias. Elas não contavam com a receptividade de todo o público.



Pauline Frederick (Robbins)


No entanto, Pauline Frederick foi uma das poucas exceções. Ela concluiu o curso de Ciências Políticas, em 1930 na Universidade Americana de Washington e iniciou suas atividades no jornal The Washington Star. Quando Frederick procurou a CBS, após o término da II Guerra Mundial não foi admitida com a justificativa de que ninguém gostaria de ouvir as notícias transmitidas por mulheres pelo fato de não aceitarem suas vozes.  

"Eu tentava de todas as formas convencer que eu poderia ser repórter de rádio. Isto era muito difícil porque nunca tinha se ouvido uma mulher querer entrar num universo masculino... um executivo de uma rádio disse-me que, mesmo se eu estivesse transmitindo uma notícia séria, os ouvintes iriam mudar de estação porque a voz da mulher não carregava autoridade.  Esta discriminação me fez determinada a quebrar esta barreira”. 
Pauline Frederick
Em 1947, Frederick tentou novamente uma aproximação da CBS e NBC, enviando amostras de suas entrevistas em platters, discos de celulóides de 78 rpm, o meio de gravação da época. O comentário, desta vez, foi que apesar dela ter uma voz agradável e ler bem, a CBS tinha poucas oportunidades de colocar uma mulher no ar.

Após muita persistência, Pauline Frederick,  tornou-se, em 1948, a primeira apresentadora e repórter de televisão ao cobrir as convenções políticas pela ABC. Pelo seu êxito nas entrevistas, após as convenções ela foi contratada e passou a ser a primeira mulher a fazer parte de uma equipe de televisão, em tempo integral. Sua voz era modulada e séria e por isso, marcou o padrão das mulheres que faziam noticiários na época (SANDERS & ROCH, 1988).

Para a preparação de sua imagem no vídeo, Frederick foi encaminhada para um reconhecido centro de estética para aprender as técnicas de maquiagem apropriadas para a televisão. Como era uma novidade, ninguém nesse instituto tinha certeza de como deveria ser a maquiagem de uma apresentadora de televisão, por isso, prepararam uma sessão de fotos com Pauline para avaliar as possibilidades e os resultados. A direção da emissora pediu para ela evitar o uso de roupas pretas, vermelhas ou brancas (O’DELL, 1997).  

Em 1976, ela foi a  primeira mulher a moderar um debate presidencial, entre Gerald R. Ford e Jimmy Carter  (BLAU, 1990).

       Ruth Ashton, em 1948, foi outra mulher que permaneceu no rádio e em seguida foi para a televisão. Ela era considerada importante neste meio. Enquanto os repórteres produziam matérias especiais e usavam suas vozes, ela fazia o mesmo, mas suas matérias precisavam ser narradas por homens. A discriminação da voz tinha sido transferida do rádio para o novo meio de comunicação, a televisão. Somente em 1951, Asthon participou de um telejornal local de Los Angeles, aparecendo em um segmento chamado “Woman’s Angle”, em que ela era vista e ouvida  (SANDERS & ROCH, 1988).

Em 1971, a Federal Communications Commission – FCC- incluiu as mulheres no regulamento de igual oportunidade de emprego que, originalmente, era somente aplicado para as minorias raciais e étnicas. Esta ordem proibia a discriminação contra as mulheres.

A perseverança e a determinação das mulheres, que na época se destacavam como correspondentes ou repórteres, abriram portas para aquelas que estavam por vir (GELFMAN, 1976).

Sim, abriram muitas portas.

 Ao acompanhar o trabalho das dedicadas profissionais do rádio e de televisão, não tenho dúvida que elas carregam a força e a essência de suas antecessoras.




FONTES  - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

BLAU, C. Pauline Frederick, 84, network news pioneer, dies. New York. New York Times. 11 de maio de 1990. p. 18.
GELFMAN,J. Women in television news. New York. Columbia University Press. 1976.
O’DELL, C. Women pioneers in television: biographies of fifteen industry leaders. North Carolina: Mc Farland& Company, Inc, 1997.
SANDERS,M.& ROCK,M. Waiting for prime time- the women of television news. Chicago: University of Illinois Press, 1988.



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