Comunicação na Mídia • Cida Stier
Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, quero fazer uma homenagem especial às repórteres e às apresentadoras de rádio e de televisão, que contam a história do mundo por meio de suas vozes.
Como fonoaudióloga, especialista em voz, há anos dedico-me a pesquisas,
preparação e desenvolvimento de vozes profissionais nos meios de comunicação. A
voz de cada pessoa é única e representa uma ponte entre o pensamento e o
ouvinte. Deste modo, a credibilidade de uma informação passa essencialmente
pela voz.
Em muitos casos, por exemplo
a voz aguda não carrega a autoridade necessária
à comunicação na mídia. Portanto, as técnicas vocais são ferramentas básicas para os
profissionais do vídeo, especialmente para as mulheres.
Sou muito grata a todas as jornalistas que confiam a mim suas vozes. É muito
gratificante participar de um bastidor em que o esforço e a dedicação em
conquistar uma voz melhor contribuem para o êxito e o sucesso profissional.
Deste modo, quero compartilhar
aqui fatos interessantes ao longo da história das últimas décadas, que marcam a
conquista da mulher jornalista em “ter voz e se fazer ouvir”.
No início, o
jornalismo era uma profissão predominantemente masculina. Uma das formas de discriminação
contra a mulher era o pensamento comum de que os ouvintes não gostavam de vozes
femininas, por não transmitirem autoridade.
Edward
R. Murrow, jornalista da CBS, indiretamente contribuiu para a mudança desse conceito. Ele foi o primeiro a admitir uma mulher para transmitir notícias pelo
rádio, em um projeto ousado e inovador. Em 1939, criou o “CBS World News Roundup”, uma transmissão ao vivo, da zona de guerra. Diariamente, os
repórteres apresentavam os furos de notícias para milhões de ouvintes, mesmo
sem ter certeza de que estariam realmente sendo ouvidos.
A
partir dessa forma de atuação, em que um profissional unia as funções de levantar
a notícia, escrevê-la e apresentá-la formou uma figura nova para a comunicação.
Esta nova forma de reportagem precisava de muitos correspondentes que fossem
profissionais experientes com vozes fortes e convincentes. Murrow contratou uma
antiga amiga, Mary Marvin Breckinridge para trabalhar nessa sua equipe. Como
fato curioso, bem no momento da primeira gravação, ele pediu a ela que
usasse a voz no tom grave. O conselho era baseado, no senso comum da época
sobre a falta de autoridade da voz feminina. Ela foi a primeira correspondente
mulher na equipe da CBS Radio News.
Após
o término da guerra e o retorno dos homens aos seus empregos, poucas mulheres
permaneceram nas estações de rádio e agências de notícias. Elas não contavam
com a receptividade de todo o público.
No
entanto, Pauline Frederick foi uma das poucas exceções. Ela concluiu o curso de
Ciências Políticas, em 1930 na Universidade Americana de Washington e iniciou
suas atividades no jornal The Washington Star. Quando Frederick procurou a CBS,
após o término da II Guerra Mundial não foi admitida com a justificativa de que
ninguém gostaria de ouvir as notícias transmitidas por mulheres pelo fato de
não aceitarem suas vozes.
"Eu tentava de todas as formas convencer que eu poderia ser repórter de rádio. Isto era muito difícil porque nunca tinha se ouvido uma mulher querer entrar num universo masculino... um executivo de uma rádio disse-me que, mesmo se eu estivesse transmitindo uma notícia séria, os ouvintes iriam mudar de estação porque a voz da mulher não carregava autoridade. Esta discriminação me fez determinada a quebrar esta barreira”.
Pauline Frederick
Em 1947, Frederick tentou novamente uma
aproximação da CBS e NBC, enviando amostras de suas entrevistas em platters, discos de celulóides
de 78 rpm, o meio de gravação da época. O comentário, desta vez, foi que apesar
dela ter uma voz agradável e ler bem, a CBS tinha poucas oportunidades de
colocar uma mulher no ar.
Após muita persistência, Pauline Frederick,
tornou-se, em 1948, a primeira apresentadora e repórter de televisão ao
cobrir as convenções políticas pela ABC. Pelo seu êxito nas entrevistas, após
as convenções ela foi contratada e passou a ser a primeira mulher a fazer parte
de uma equipe de televisão, em tempo integral. Sua voz era modulada e séria e
por isso, marcou o padrão das mulheres que faziam noticiários na época (SANDERS
& ROCH, 1988).
Para
a preparação de sua imagem no vídeo, Frederick foi encaminhada para um
reconhecido centro de estética para aprender as técnicas de maquiagem
apropriadas para a televisão. Como era uma novidade, ninguém nesse instituto
tinha certeza de como deveria ser a maquiagem de uma apresentadora de
televisão, por isso, prepararam uma sessão de fotos com Pauline para avaliar as
possibilidades e os resultados. A direção da emissora pediu para ela evitar o
uso de roupas pretas, vermelhas ou brancas (O’DELL, 1997).
Em 1976, ela foi
a primeira mulher a moderar um debate presidencial, entre Gerald R. Ford
e Jimmy Carter (BLAU, 1990).
Ruth
Ashton, em 1948, foi outra mulher que permaneceu no rádio e em seguida foi para
a televisão. Ela era considerada importante neste meio. Enquanto os repórteres produziam matérias
especiais e usavam suas vozes, ela fazia o mesmo, mas suas matérias precisavam
ser narradas por homens. A discriminação da voz tinha sido transferida do rádio
para o novo meio de comunicação, a televisão. Somente em 1951, Asthon
participou de um telejornal local de Los Angeles, aparecendo em um segmento
chamado “Woman’s Angle”, em que ela era vista e ouvida (SANDERS &
ROCH, 1988).
Em
1971, a Federal Communications Commission – FCC- incluiu as mulheres no
regulamento de igual oportunidade de emprego que, originalmente, era somente
aplicado para as minorias raciais e étnicas. Esta ordem proibia a discriminação
contra as mulheres.
A
perseverança e a determinação das mulheres, que na época se destacavam como
correspondentes ou repórteres, abriram portas para aquelas que estavam por vir
(GELFMAN, 1976).
Sim,
abriram muitas portas.
Ao acompanhar o trabalho das
dedicadas profissionais do rádio e de televisão, não tenho dúvida que elas
carregam a força e a essência de suas antecessoras.
FONTES - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
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http://www.poynter.org/news/mediawire/272385/today-in-media-history-in-1939-mary-marvin-breckinridge-patterson-became-one-of-the-first-female-cbs-broadcast-journalists/
http://www.wic.org/bio/frederic.htm
http://www.shemadeit.org/meet/biography.aspx?m=29
http://www.wic.org/bio/frederic.htm
http://www.shemadeit.org/meet/biography.aspx?m=29
BLAU, C. Pauline Frederick, 84, network news pioneer, dies. New York. New York Times. 11 de maio de 1990. p. 18.
GELFMAN,J. Women in television news. New York. Columbia University Press. 1976.
O’DELL, C. Women pioneers in television: biographies of fifteen industry leaders. North Carolina: Mc Farland& Company, Inc, 1997.
SANDERS,M.& ROCK,M. Waiting for prime time- the women of television news. Chicago: University of Illinois Press, 1988.

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